Saí pela porta do fundo, tropeçando no salto alto e caindo em esperanças sem fundo. Mais que mania de esperar o tempo, aguardando a verdade do relógio batendo em nossos rostos, risco de sombra em nossos cílios.
Preferi a sarjeta aquelas pessoas aprisionadas, carcomidas por dentro e louvando um deus sem rosto. Eu não queria ser aprisionada dentro de mim mesma, por isso fugi, bem na hora dos fogos, do estouro. Prendi-me muito, remando contra a maré, tolhi o exterior, enquanto que meu interior não podia encenar felicidade absurda expressa por fora.
Ademais, cansei da invasão alheia em meu território. Nunca fui de levantar bandeiras, não posso servir de haste para bandeiras alheias. E andei tão cansada de ter minha cama desarrumada, minhas gavetas mexidas, meu banheiro sem porta fechada, minha vida estendida num varal, que nem literatura de cordel.
Não espero nada do novo ano, a muito deixei de esperar e corro como louca atrás da realidade. Não espero nem ônibus. Esperar é fantasmagórico, é assustador, é alucinante demais. A gente se promete muita coisa nessas horas, anota tudo em caderninho, que nem adolescente, depois esquece, guarda-os em baús da memória, ou numa caixa empoeirada qualquer, sem fundo. Não espero, mas mantenho a esperança, faísca que rebrilha no brilho dos olhos.
Como aprendi com Caio, vou desamarrar minhas asas, tirar o pó, e batê-las em retirada, em revoada pra outro lugar, outro tempoespaço. E tenho coragem pra enfrentar a viagem. Com meu pé direito alto, grande e esperançoso, vou fugir pra levar flores pro mar, saudando marabô caiala.