quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Fuga


Saí pela porta do fundo, tropeçando no salto alto e caindo em esperanças sem fundo. Mais que mania de esperar o tempo, aguardando a verdade do relógio batendo em nossos rostos, risco de sombra em nossos cílios.

Preferi a sarjeta aquelas pessoas aprisionadas, carcomidas por dentro e louvando um deus sem rosto. Eu não queria ser aprisionada dentro de mim mesma, por isso fugi, bem na hora dos fogos, do estouro. Prendi-me muito, remando contra a maré, tolhi o exterior, enquanto que meu interior não podia encenar felicidade absurda expressa por fora.

Ademais, cansei da invasão alheia em meu território. Nunca fui de levantar bandeiras, não posso servir de haste para bandeiras alheias. E andei tão cansada de ter minha cama desarrumada, minhas gavetas mexidas, meu banheiro sem porta fechada, minha vida estendida num varal, que nem literatura de cordel.
Não espero nada do novo ano, a muito deixei de esperar e corro como louca atrás da realidade. Não espero nem ônibus. Esperar é fantasmagórico, é assustador, é alucinante demais. A gente se promete muita coisa nessas horas, anota tudo em caderninho, que nem adolescente, depois esquece, guarda-os em baús da memória, ou numa caixa empoeirada qualquer, sem fundo. Não espero, mas mantenho a esperança, faísca que rebrilha no brilho dos olhos.

Como aprendi com Caio, vou desamarrar minhas asas, tirar o pó, e batê-las em retirada, em revoada pra outro lugar, outro tempoespaço. E tenho coragem pra enfrentar a viagem. Com meu pé direito alto, grande e esperançoso, vou fugir pra levar flores pro mar, saudando marabô caiala.





4 comentários:

  1. Gostei muito amiga das imagens!!! invejinha branca..rsrs

    bjuz

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  2. Escrevi um comentário enorme, mas não sei o que houve que deu erro na hora de postar. =/
    Bem, amiga, gostei do tom introspectivo do texto, falas de um momento teu que me é tão próximo...
    Sinto o mesmo por vezes, estou tentando libertar-me, mas o difícil é não saber ao certo o que está fazendo peso em minhas asas, espero que esse processo não demore muito, sei que um preço sempre é cobrado.
    Enfim,só resta seguir o que diz aquela canção do Los Hermanos: Aponta pra fé e rema!
    Beijo :)

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  3. mesmo que não esperemos mais, nos desesperamos ainda...com nossas introspecções fadadas ao fracasso, pois a sempre alguém pra meter a colher na nossa vida, na nossa receita de bolo que nem sempre tem fermento suficiente, mas que é nosso, mesmo que solado. Precisamos parar de esperar que nossas expectativas estejam de acordo com as alheias, a vida é muito rara e devemos levantar a bandeira virada para dentro, para dentro de nossos sonhos e crenças, para dentro dos nossos sentimentos e mais nada.

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  4. esse "a sempre alguém era há de existir com H" !!!!!!! CORREÇÃO

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