quarta-feira, 28 de julho de 2010

Não quero ser na tua vida a mulher-vento que passou.
Ainda mais em pleno agosto...
Quero que fiques com meu sabor e prenda do meu corpo o gosto.





terça-feira, 27 de julho de 2010

Abismo

Chega-se numa fase crítica, em que não mais se pode voltar atrás. Como num abismo em que a única escolha é se deixar cair, pois a estrada em que se poderia seguir já não existe mais. É preciso partir. Sem que se saiba para onde nem por que. Mas o corpo não responde, paralisado de medo. Um grito ecoa dentro de si: Vai! A obediência é negada, tentando sobreviver. Mas não se sobrevive sem dor. Que faz parte da luta. Uma das obrigações da vida é se obrigar. Apagar o lustre da intuição e seguir na contramão. Não se vive sem errar. Quebrando cara e coração. Dor é fundamental para estar vivo, dói, mas passa. Depois sentimos outra dor, sempre mais forte que a anterior, pois o que dói é a dor presente, a dor passada agora é dor ausente. O que resta é se jogar, mergulhar no abismo sem fundo, obrigar-se à.

sábado, 24 de julho de 2010

Perdida e desocupada

fitando a quem passasse e tentando aprisionar o mistério que cada um carrega em si. As pessoas na verdade são simples, os mistérios quem inventam são os outros. O importante é não cair nesses mistérios inventados por outros, nem inventar mistérios alheios. O que implica em minha perdição é meu vício de criar mistérios para outros, que culminam em meus próprios mistérios descobertos não por mim, perdida que estou no mistério alheio. Criar mistérios funciona como espelho.

Não consigo parar. Penso, penso, penso. Crio e recrio mistérios diariamente, sem trégua, sem intervalos entre si. Pior para mim. Formo um terço profano de mistérios humanos. E as pessoas são tão simples. O difícil são os mistérios.

Eu sou uma bobinha. Meu mistério é esse, o que inventam para mim. As pessoas são simples, eu, avessa a tudo, não sou. Sou maior que meu mistério. Na verdade me perco na realidade, me desfaço em poeira de estrela esquecida num porão qualquer dentro de um pote luminoso. Clarice escreveu o ovo para um congresso de bruxos. Eu não me dou ao luxo. Escrevo por precisão, necessidade irmã das necessidades de qualquer humano. não escrevo nem por arte nem por vaidade. E me aflige usar essa primeira pessoa mal passada, visão calcificada. Além disso não sou nada, nunca desejei ser nada.

A culpa é minha. Todos os mistérios são meus, meu modo de ver o mundo através de olhos míopes. Meu modo de enxergar a mim sem mistérios, como uma página em branco, inacabada, caçando em outros o mistério que não conheço de mim. Reflexo do refletido alheio.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Meu namorado imaginário

real

Não quero um namorado imaginário porque me lembra sonho, utopia. Um ser tão além, de pluma e sem base. Meu homem dos sonhos é diferente do meu homem da realidade, vasto é o campo que os separa.
O que me encanta é realidade sensorial, palpável por olhos e narizes sensitivos, tátil por mãos bêbadas, inteligível por ouvidos sem razão. O que eu quero mesmo é o real. O homem real que misture o feijão com o arroz no prato, homem que entorte o garfo. O homem real que sente cócegas e acorde no meio da noite, assustado com minha presença incomum em sua cama, homem com trauma de infância. Que me desperte a vontade de ser como ele, de morar dentro dele, de enxergar o mundo dele.
Um homem que não me prometa nada, pois prometer é eternizar-se, tornar-se Deus. Que me dê seu corpo como quem oferece água a quem tem sede. Que me tire todos os porquês. Que me leve à praia num dia de chuva. Que more do outro lado da cidade e construa uma ponte sólida da minha casa a sua. Que tenha o cheiro tranqüilizador do amaciante. Que diga que meu gosto é diferente de tudo que ele já provou. De tudo e de todas.
Homem real que me faça sonhar, gastar meu sono em sonhos. Homem humano que me faça também humana. Humana e mulher. Uma chama que me acenda. Um homem que me mostre tudo que eu não sei. Que de sua voz nasçam imagens. Que meu corpo inteiro palpite ao ouví-la.
Não quero que seja pedra e se emplume. Quero que seja pluma e se empedre. Que por dentro seja macio, leve como um menino que sonha. Mas que seja minha fortaleza, meu porto seguro nas horas de fraqueza.
Que mude meus olhos de cor e transforme-os em pedras de âmbar para guardar dentro deles sua imagem fossilizada.
Um homem apenas. E humano. Que me faça acreditar que todos os outros são imaginários.