sábado, 24 de julho de 2010

Perdida e desocupada

fitando a quem passasse e tentando aprisionar o mistério que cada um carrega em si. As pessoas na verdade são simples, os mistérios quem inventam são os outros. O importante é não cair nesses mistérios inventados por outros, nem inventar mistérios alheios. O que implica em minha perdição é meu vício de criar mistérios para outros, que culminam em meus próprios mistérios descobertos não por mim, perdida que estou no mistério alheio. Criar mistérios funciona como espelho.

Não consigo parar. Penso, penso, penso. Crio e recrio mistérios diariamente, sem trégua, sem intervalos entre si. Pior para mim. Formo um terço profano de mistérios humanos. E as pessoas são tão simples. O difícil são os mistérios.

Eu sou uma bobinha. Meu mistério é esse, o que inventam para mim. As pessoas são simples, eu, avessa a tudo, não sou. Sou maior que meu mistério. Na verdade me perco na realidade, me desfaço em poeira de estrela esquecida num porão qualquer dentro de um pote luminoso. Clarice escreveu o ovo para um congresso de bruxos. Eu não me dou ao luxo. Escrevo por precisão, necessidade irmã das necessidades de qualquer humano. não escrevo nem por arte nem por vaidade. E me aflige usar essa primeira pessoa mal passada, visão calcificada. Além disso não sou nada, nunca desejei ser nada.

A culpa é minha. Todos os mistérios são meus, meu modo de ver o mundo através de olhos míopes. Meu modo de enxergar a mim sem mistérios, como uma página em branco, inacabada, caçando em outros o mistério que não conheço de mim. Reflexo do refletido alheio.

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