Não consigo parar. Penso, penso, penso. Crio e recrio mistérios diariamente, sem trégua, sem intervalos entre si. Pior para mim. Formo um terço profano de mistérios humanos. E as pessoas são tão simples. O difícil são os mistérios.
Eu sou uma bobinha. Meu mistério é esse, o que inventam para mim. As pessoas são simples, eu, avessa a tudo, não sou. Sou maior que meu mistério. Na verdade me perco na realidade, me desfaço em poeira de estrela esquecida num porão qualquer dentro de um pote luminoso. Clarice escreveu o ovo para um congresso de bruxos. Eu não me dou ao luxo. Escrevo por precisão, necessidade irmã das necessidades de qualquer humano. não escrevo nem por arte nem por vaidade. E me aflige usar essa primeira pessoa mal passada, visão calcificada. Além disso não sou nada, nunca desejei ser nada.
A culpa é minha. Todos os mistérios são meus, meu modo de ver o mundo através de olhos míopes. Meu modo de enxergar a mim sem mistérios, como uma página em branco, inacabada, caçando em outros o mistério que não conheço de mim. Reflexo do refletido alheio.

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