domingo, 13 de dezembro de 2009

mulher e Deus


Em mais uma de suas perdas, Raquel se vê estranha, como se nunca antes tivesse perdido... é que não dá para comparar uma dor com a outra. Ignora-se o porquê disso. Seria simplesmente porque não dá para comparar uma pessoa com outra, um amor com outro, um sentimento, um olhar, um cheiro, uma forma de falar? Nada se compara.

A falta de comparação deixa um vazio gritante, faz sua velha sensação de perda parecer inédita, parecer a primeira. Isso acontece por que ele foi o primeiro, lhe deu promessas, carinhos e palavras doces que nunca antes havia recebido e tentou lhe colocar no seu mundo. Ela, Raquel, que há tempos vive num mundo realista, realista fantástico é verdade, deu o que achava que podia dar, deu o que sua confiança lhe dizia para dar: deu seu corpo, seu profundo olhar misterioso, seu sangue feminino, alguns presentes e umas poucas linhas sentimentalóides. Não bastou... mas, me diz, quem foi mais real, mas sincero e coerente em seu contexto? Acho que nisso ela ganhou, acho também que pela primeira vez sua culpa será mínima. Que bom!

Foi tudo muito novo dessa vez. E foi ela quem desejou o novo, buscou o novo e obteve o novo. Acho que não soube o que fazer com ele, mas se esforçou para fazer certinho: seguiu no caminho do novo. Amou novo, se deu novo, ouviu novo, falou novo, fez planos novos, perdeu novo, se desiludiu novo. Poderia ser de novo, mas é um trocadilho pobre de mais. Por isso o estranhamento da perda, coisa tão comum em sua vida.

Dessa vez não sentiu o peso da culpa, porém não pode negar que foi menos sublime. Dar um corpo não é tão belo como dar promessas e planos... corpo do momento fica preso em si; já a promessa, ela é eterna e é por ela que se eterniza um homem, é no ato de proferi-la que está o segredo da imortalidade.

Ela não prometeu: foi somente humana.
Ele prometeu: tornou-se um Deus.

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