domingo, 18 de abril de 2010

Masculino duplo

Nunca havia sentido vontade de ser homem, nem em suas revoltas e fantasias de infância, nunca.

Há algum tempo sentiu essa vontade... não de mudar de sexo, mas de sentir como um homem, ter liberdade de um homem, viver como vive um homem. Por admiração a um único homem. Vontade de ser ele.
Diz o poeta: Transforma-se o amador na coisa amada.

É estranho, e quase impossível, mais cedo ou mais tarde a mulher que na verdade ela é quer se materializar, escapar por entre os dedos na hora de sentir.

Ela precisa do abrigo, por mais que se queira livre, ela necessita ter, possuir. Uma mulher nunca é moderna o suficiente para não desejar, nunca.

E descobriu que na verdade queria morar dentro dele, num cubículo que fosse entre seu coração e seus pulmões, um lugar de onde pudesse conhecê-lo e desfrutá-lo, de onde pudesse misturar-se com suas vontades e valores, suas histórias antigas e seus conhecimentos infindos.

Ela nunca havia andado tão estranha, nunca.



Duplamente feminino

Mudou-se para dentro dele, levou seus livros e músicas preferidas, seus papéis inúteis e fotografias de infância.

Amalgamaram-se.

Ele feminilizou-se. Do masculino duplo fez-se visível o feminino. Delicado feminino do masculino. Fez-se então o que era duplamente feminino, dele e dela.

Ela não mais desejou sê-lo, pois agora eram uno, unidade platônica indissociável.
Não mais havia feminino e masculino distintos. Havia agora um ser só acompanhado. Metade metade que se completava.

A isso é que se nomeou Amor.

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