Há algum tempo sentiu essa vontade... não de mudar de sexo, mas de sentir como um homem, ter liberdade de um homem, viver como vive um homem. Por admiração a um único homem. Vontade de ser ele.
Diz o poeta: Transforma-se o amador na coisa amada.
É estranho, e quase impossível, mais cedo ou mais tarde a mulher que na verdade ela é quer se materializar, escapar por entre os dedos na hora de sentir.
Ela precisa do abrigo, por mais que se queira livre, ela necessita ter, possuir. Uma mulher nunca é moderna o suficiente para não desejar, nunca.
E descobriu que na verdade queria morar dentro dele, num cubículo que fosse entre seu coração e seus pulmões, um lugar de onde pudesse conhecê-lo e desfrutá-lo, de onde pudesse misturar-se com suas vontades e valores, suas histórias antigas e seus conhecimentos infindos.
Ela nunca havia andado tão estranha, nunca.

Duplamente feminino
Mudou-se para dentro dele, levou seus livros e músicas preferidas, seus papéis inúteis e fotografias de infância.
Amalgamaram-se.
Ele feminilizou-se. Do masculino duplo fez-se visível o feminino. Delicado feminino do masculino. Fez-se então o que era duplamente feminino, dele e dela.
Ela não mais desejou sê-lo, pois agora eram uno, unidade platônica indissociável.
Não mais havia feminino e masculino distintos. Havia agora um ser só acompanhado. Metade metade que se completava.
A isso é que se nomeou Amor.
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