quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Não posso pintar minhas unhas de vermelho.



Só quem pode são as mocinhas. É que elas pintam as unhas de vermelho e continuam sendo mocinhas; ninguém vê suas unhas vermelhas sangue derramado.

Eu pinto minhas unhas de vermelho e sou... o que?!Vermelho é meu sangue derramado. Vermelho em mim ulula, berra. Apenas uma unha vermelha e estou toda vermelha, toda sangue derramado.Unhas vermelhas em mim parecem pleonasmos, pleonasmos viciosos, daqueles que trincam aos ouvidos.

Sou toda vermelho. Sou toda sangue derramado.Tento esconder com rosa clarinho, renda, base, mas não limpa o vermelho sangue derramado. Esse, nem acetona tira de mim.

Meu corpo é vermelho sangue derramado: Grita alto.
Minha alma é vermelho sangue derramado: Voz rouca de impropérios.

Mas lá bem no fundo sou mocinha rendada. É que debaixo de tanto sangue derramado nem dá para ver que sou mocinha também. Queria não precisar da renda para cobrir o sangue derramado. Mas preciso. E não uso. Deixo o sangue derramado escorrer das minhas unhas para o meu corpo, do meu corpo para as minhas unhas. E para tudo que me cerca, tudo que digo ou dizem ser meu.

Debaixo do sangue derramado minha renda poderia surgir, um dia, mas não. Sangue derramado é essência, e a essência a gente nunca perde (segundo algumas filósofas). O que quer dizer que esse vermelho sangue derramado segue derramado por mais algum tempo, dias, anos, enquanto estiver viva eu.

Até que um dia eu morra de hemorragia.

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