
“Eu sou uma figura de linguagem”, ele me disse, com ar de esfinge que se revela, deixando um mistério ainda maior no ar a ser descoberto, “decifra-me ou devoro-te”.
Das figuras de linguagem qual seria ele? Qual das figuras de linguagem ele seria?
Vou seguindo as pistas que ele me deu:
Na esfinge metafórica já tenho um bom começo. Belo como uma estátua de Apolo ou Baco, o tenho numa perfeita comparação. Ou pode-se levar em conta suas hiperbólicas verdades perfeitas... Mas e o gato nos olhos dele? Seria o contrário de uma personificação? E, se digo dele esses mesmos olhos ou o nariz de estátua grega, construo uma metonímia bem calculada. Levando-se em conta também sua eufêmica maneira com que fala das coisas todas, a antítese de claro/escuro que é todo ele e o paradoxo de seu interior com seu exterior, tão opostos que se unem e se completam num só.
E se me canso e digo que ele é todas as figuras de linguagem juntas e pronto, amalgamadas, é porque já o conheço bastante para dizer. Ou não conheço nada ainda.
Devorou-me.